domingo, 28 de maio de 2017

O que é um homem sem memória?

Pessoal hoje será um texto enviando por uma colaboradora muito especial que estuda e pesquisa na área da neurociência. No final eu a apresento. Leiam que o texto está simplesmente incrível!

Imagine que você está em casa e resolve comprar pão francês para o café da manhã, como faz rotineiramente. Chegando ao mercado, apesar do esforço, não se recorda muito bem, “O que era pra comprar mesmo?”. Liga pra casa e seu familiar te responde sobre os pães. Pede os pães, paga e sai do mercado. “E agora, como era o caminho? Direita ou esquerda?”. Imagine ir perdendo sua memória aos poucos, lenta e dolorosamente, não se lembrando mais do que falou ou perguntou a alguns minutos, se comeu, se tomou banho, com alguns raros momentos de lucidez. Bem vindo à vida do paciente com Alzheimer.

Segundo Carlos Moreno, ator, no prefácio do livro Ausência: “Para o doente, a perda gradual da memória é o apagar do mais essencial que possuímos, do que nos define e nos diferencia daquilo que faz cada um de nós, humanos: nossa identidade. Para o familiar, é a dor de um luto prolongado, pois, embora esteja vivo, aquele à nossa frente vai, pouco a pouco, deixando de ser quem um dia conhecemos e amamos.”.

Cena do filme Para Sempre Alice (2014)

Por esse, e por tantos outros motivos, resolvi estudar a Doença de Alzheimer.
A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa que afeta grande parte da população idosa mundial. Ela é marcada pela perda de memória recente, e, com o seu avanço, vai levando a um intenso declínio cognitivo. Além disso, o paciente também pode apresentar sintomas tais como agitação, hiperatividade, ansiedade, perda de peso, depressão, distúrbios no ciclo circadiano e no sono, podendo inclusive levar a morte.

Quando soube, em 1995, que estava com a Doença de Alzheimer, o pintor americano William Utermohlen começou a fazer autorretratos, mostrando a evolução da doença e o grande declínio cognitivo no qual foi acometido.[1]

              
            Ela pode ser dividida em dois tipos: a genética, que acomete uma pequena parcela da população (menos de 5% dos casos, sendo sua incidência em adultos mais jovens – até uns 60 anos), e, como seu nome já indica, a causa é puramente genética; é a doença que vemos representada no filme “Para Sempre Alice” – que, aliás, recomendo fortemente -, e a esporádica, mais comum (cerca de 95% dos casos), multifatorial, porém com causa ainda desconhecida.
            Em ambos os casos, apresenta dois marcadores histopatológicos no sistema nervoso central: as placas extracelulares do peptídeo beta-amilóide e os emaranhados neurofibrilares da proteína Tau hiperfosforilada (intracelular). A proteína Tau se liga ao microtúbulo, promovendo sua estabilização, que, por sua vez, compõe o citoesqueleto do neurônio. No Alzheimer, ocorre o processo de fosforilação da Tau, acabando por degradar o microtúbulo, não permitindo o transporte de substâncias entre um neurônio e outro e impedindo a comunicação entre eles, levando a morte celular.

Ilustração do que ocorre no microtúbulo devido a Tau em um neurônio normal versus
 um neurônio acometido pelo Alzheimer.

            A vida no laboratório

Assim que decidi que queria trabalhar com pesquisa a respeito do Alzheimer, comecei a procurar, dentro da Universidade, quais professores tinham sua linha de pesquisa voltada para essa área. Assim, não foi difícil encontrar meu atual orientador e, após algumas reuniões, comecei, em 2015, a fazer parte do Laboratório de Morfofisiologia. 
O começo é sempre um período de adaptação, no qual você conhece e experimenta a rotina do laboratório e decide, com a ajuda do seu professor, qual será o tema do seu trabalho, dentro de todas as possibilidades em que ele trabalha. No meu caso, tinha duas possibilidades: trabalhar com células ou com animais. Então, após certo tempo convivendo lá dentro, meu professor teve uma ideia de um determinado tema, seguindo a linha de pesquisa em que ele trabalha. Assim, depois de escrevermos o projeto e de muuuuito treino, finalmente, em abril de 2016, dei início ao projeto: “Efeito da temperatura em modelo animal para a Doença de Alzheimer esporádica”.
Sim, você não leu errado. Minha pesquisa é com animais. Por um lado, isso é incrível, pois os animais conseguem mimetizar os sintomas da Doença e nos fazem entender pelo menos um pouco de como o Alzheimer afeta o cérebro das pessoas e como o organismo vai reagindo a doença. Por outro lado, trabalhar com animais gera um desconforto a muitas pessoas, mas tenha em mente que todos os experimentos passam pela aprovação de um comitê de ética e existe uma série de medidas que regem o uso de animais em laboratório.
Nem sempre sua rotina científica será um mar de flores. Os experimentos podem não dar certo, os equipamentos não funcionarem adequadamente bem no dia que você iria usar e os animais resolvem não colaborar durante o teste. Mas, quando você começa a analisar seus dados, vê que eles estão se transformando em resultado, e que podem te levar a algo interessante, isso não tem preço! É uma felicidade que não tem tamanho e, só a vida acadêmica pode te proporcionar! 
Então, por mais difícil e complicada que essa caminhada pareça e, se a ciência e a pesquisa estão nos seus objetivos de vida, não desista do seu sonho! Pense que, com o seu trabalho você pode levar informação a tantas pessoas e ajudar muitas outras. Que você nunca perca as motivações para continuar e que tenha muito sucesso na carreira em que decidir!
 
Apresentação Colaboradora

Talita Senra

Estudante do Bacharelado em

Ciência & Tecnologia e Neurociência

Universidade Federal do ABC (UFABC)

Contato: talita_tmsm@hotmail.com
 
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Referência Bibliográfica e links interessantes:

[1] http://www.nytimes.com/2006/10/24/health/24alzh.html?_r=3& // História do  William Utermohlen
- Filme: Para Sempre Alice (2014)
- Livro: Ausência. Flavia Cristina Simonelli. Novo Século Editora.
- Artigos: 
Carrettiero, D. C., Santiago, F. E., Motzko-Soares, A. C. P., & Almeida, M. C. (2015). Temperature and toxic Tau in Alzheimer's disease: new insights. Temperature, 2(4), 491-498.
de Paula, C. A. D., Santiago, F. E., de Oliveira, A. S. A., Oliveira, F. A., Almeida, M. C., & Carrettiero, D. C. (2016). The co-chaperone BAG2 mediates cold-induced accumulation of phosphorylated tau in SH-SY5Y Cells. Cellular and molecular neurobiology, 36(4), 593-602.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Sabina, minha experiência e ensino de ciência no Brasil

Todo mundo já deve ter assistido aquele filme com Ben Stiller, Uma Noite no Museu[1]. No qual ele interpreta Larry um guarda noturno e as coisas dentro do local ganham vida a noite. A cena mais emblemática é o Tiranossauro Rex correndo atrás do personagem. O filme retrata a importância do conhecimento e de que maneira um museu pode fazer parte desse aprendizado não somente para crianças, como para adultos desmitificando as ciências naturais, históricas, sociais e biológicas.

No ultimo ano tive oportunidade de trabalhar num museu científico não muito diferente do museu de História Natural de New York[2] onde o filme se passa. Na verdade também tínhamos uma das poucas réplicas de Tiranossauro Rex da América Latina. A Sabina Escola Parque do Conhecimento[3] é uma iniciativa importante no ensino de ciência no Estado de São Paulo. Desta forma, eu resolvi contar minha experiência que foi trabalhar com ensino e divulgação de ciência num museu, com o público alvo principal crianças do ensino fundamental I(primeira a quarta serie).

Tiranossauro Rex localizado na Sala da Vida, na Sabina.

  • O que é um Museu de Ciência?

    Os primeiros museus da história eram geralmente coleções particulares[4] de grande entusiastas de antiguidades e até mesmo animais "exóticos", que buscavam colecionar com um aspecto social de riqueza e erudição. No final do século XIX e da primeira parte do XX os museus dessas coleções pessoas começaram servi de exposição para público e novos museus foram fundados ainda para elite da sociedade. Foi apenas com o decorrer do ultimo século que tivemos a popularização diversos tipos de museus. Assim no esforço de se aproximarem do público passaram a adotar estratégias inovadoras representadas, muitas vezes, pela substituição dos objetos históricos por aparatos didáticos para demonstrar fenômenos científicos. Pretendia-se aproximar o leigo da ciência por meio de um tipo de interação que tinha no manuseio dos aparatos o principal apelo. Como consequência diluiu-se os aspectos culturais e históricos dos objetos tradicionais e massificou-se um modelo que foi disseminado pelo mundo. A eficácia das diversas formas de facilitar, nos museus, o entendimento público da ciência, provocou debates que levantaram muitas questões e que vão desde as diferentes maneiras de apresentar a ciência até sua relação com a sociedade[5].
Museu de Artes de São Paulo - MASP
  • E a Sabina?

    A Sabina - Escola Parque do Conhecimento foi idealizada no ano de 2001 pelo governo municipal de Santo André, com a finalidade de suprir as necessidades de suporte científico aos alunos da rede municipal de ensino. Foi então desenhada para ser um grande laboratório experimental, com funcionamento de centro interativo, com a missão de democratizar o acesso ao conhecimento científico, artístico, cultural e tecnológico[6].

    Desde que eu ouvir sobre um planetário que é o mais moderno da América Latina, Johannes Kepler[7], antes mesmo da oportunidade de trabalhar na Sabina. Era um local que eu sempre quis conhecer e mesmo morando já mais de 2,5 anos em Santo André. Minha primeira visita no parque foi no primeiro dia de treinamento.

    Moderno Projetor do Planetário Johannes Kepler.

    Caminhando pelos dinossauros na sala da vida voltarmos a nossa infância quando imaginamos os dinossauros do Jurissac Park[8], pois é possível o observar quanto somos pequenos perto daqueles monstros. O parque conta com três salas principais: Sala da Vida, Sala da Terra e a Sala das Ciências(Física, Química, Matemática).

    Nossa primeira turma, apresentando o aquário na Sala da Vida.

    O parque também serve de escola para diversas atividades, cursos e workshops muito desses projetos tinham a Universidade Federal do ABC, como grande organizadora desses eventos tanto cursos básico de astronomia para público em geral e também treinamentos e oficinas para os professores de ciências da rede pública do município.

    Atualmente(março/2017) infelizmente o parque está fechado por questões de manutenção e principalmente política[9]. Nesse post irei evitar discussão política...

  • Crianças e Ciência

    Você já tentou contar para uma criança como funcionam as coisas? Aqueles olhinhos de fascinada, com uma mistura do que você está falando e segundos depois ela perde toda atenção. Então essa era sensação e o desafio de criar roteiros e estratégias para conseguir passar o conteúdo que o parque apresentava para um grupo de crianças da rede municipal. O grupo geralmente de vinte e cinco crianças de oito a dez anos de idade. Muitas vezes encarando aquela visita, como a oportunidade sair da sala de aula e até mesmo comer, pois em algumas escolas não haviam merenda infelizmente(sim eu estou me segurando para não falar de política...).

    Porém, o maior desafio era manter o grupo atento as explicações e o que queríamos passar. Porque você pode imaginar o que é ter cerca de 80 crianças numa mesma sala, quando se liga dinossauros robóticos que se mexem e gritam. Assim dentro do mediadores(monitores) combinávamos antes para qual área do parque iríamos levar as crianças para não ter diversos grupos no mesmo ambiente(ainda assim acontecia). Eu fiz ao todo cinco mediações com as crianças, pegando de turmas tão agitadas que eu perdia a voz até turmas tão calmas e interessadas que você podia explicar até física da matéria condensada.


    Minha última turma de mediação.

    As experiências foram variadas nesses seis meses, mas o aprendizado de ter oportunidade de trabalhar com crianças foi único, principalmente passar ciência para crianças. Mesmo usando roteiros para otimizar de melhor forma o tempo. As vezes era preciso improvisar porque não era uma aula comum e sim algo mais interativo, desta forma as crianças poderiam fazer diversas perguntas. Acreditem, perguntas que não eram simples responder desde reprodução das cobras, até perguntas sobre preservação do meio ambiente.
  • Divulgação científica e ensino de ciência no Brasil

    No mundo há uma crescente nos movimentos e nas ideias anticiência, como Terra plana e o "aquecimento global que é uma teoria da conspiração Chinesa para destruir a economia americana" - Presidente do Estados Unidos da América. O Brasil não é muito diferente hoje os canais de Youtube e páginas de Facebook são maiores influenciadores para crianças e jovens dessa geração, temos muitos canais/páginas que são desserviço para população e sociedade. Desta forma, é muito importante o investimento do Estado e da inciativas individuais para criar formas para divulgar a ciência, como também o ensino de ciência no país. Este blog é uma formiguinha que tenta participar dessa iniciativa para divulgar informação com responsabilidade e consciência!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Negros e Negras na Ciência

Já faz um tempo que gostaria de escrever sobre, algo que me incomoda muito nos blogs, revistas, vídeos e locais de divulgação. Por que todo grande cientista de exemplo para crianças são (homens)brancos? Sim, façamos um experimento mental pense em cincos cientistas, pesquisador e/ou inventor. Antes de escrever esse texto fiz esse mesmo experimento com amigos e todos pensaram em figuras históricas do meio científico Homens Brancos. Aposto que você leitor pensou algo muito parecido, então vamos lá!

Nossa contribuição para ciência foi/é muito maior que imaginamos.


Antes de começar os pontos principais desse texto. Eu não entrarei profundamento na vida todos cientista, pesquisador e inventor, pois no final do texto colocarei diversos links para várias listas mais detalhadas.


  • Por que não conhecemos Negros e Negras na ciência?

    No meu texto das dificuldade da carreira acadêmica abordei um pouco sobre seu elitismo. Infelizmente ainda há poucas oportunidades para as pessoas das classes sociais mais baixas, ingressaram nos cursos de pós graduação. Contudo, dentro da fatia de exceção a grande maioria são homens brancos[1]. Ainda existem muitos dentro da acadêmia que ironicamente são conservadores, tendem a dificultar a diversidade de pessoas, quanto de ideais(comentarei isso em outro post). Essas pessoas que detém o maior posto dentro das hierarquias científicas(orientadores, pesquisadores famosos e até mesmo ganhadores do Nobel) oprimem os pobres, negros(as) e qualquer outro aspirante a cientista(olha aí!) a subi nessa hierarquia ou ter alguma visibilidade no meio científico. As amarras são postas nessas minorias e muitos o que elas produziram se perdem, ou ainda pior, são publicadas e acabam excluindo seus nomes do trabalho/artigo, eventualmente caindo no esquecimento. 

    O biólogo Ernest Everett Just nascido em 1883 e foi criado em Charleston, na Carolina do Sul. Ele estudou zoologia e desenvolvimento celular na Universidade Dartmouth, em New Hampshire, e trabalhou como bioquímico estudando células no laboratório marinho Woods Hole, em Massachussets. Trabalhou como instrutor de biologia na Universidade Howard antes de tornar-se o primeiro negro a receber o título de Ph.D. da Universidade de Chicago em embriologia experimental[2]. Sendo pioneiro nos trabalhos de células e que faria qualquer pesquisador(branco) daquela época ser disputado pelas universidade americanas, entretanto, por ser negro Just sofreu muito racismo das faculdades mais prestigiadas e óbvio conservadoras dos Estados Unidos. Acabou se mudando para Europa onde desenvolveu diversos estudos. Mesmo com racismo Just demonstrou exemplarmente para a sociedade racista, que um negro poderia ser um grande pesquisador no meio dos brancos e conservadores.

    Novamente, por que você nunca ouviu falar de Ernest Everett Just nos seu curso ou matéria de ensino médio de biologia? A reposta é perturbadora, mas simples: racismo! Sim, nem mesmo as brilhantes ideias e trabalhos de dele fugiram da influência da acadêmia racistas. 
Ernest E. Just Biólogo e Pioneiro no estudo de células.
  • "Racismo? Nossa quanto vitimismo hein!?"

    Se você é negro(a) já tentou discuti ações racistas com um branco e principalmente conservadores já ouviu/leu essa resposta. A sociedade brasileira tem uma maior peculiaridade das outras, como Americana e Europeia. O Brasil é constituído por 51% da população por negros/pardos[3], porém apenas 42% dos alunos da grande maioria das universidade e faculdades são negros/pardos[4]. Todavia, análise do IBGE peca na sua apuração de dados, por exemplo a Universidade de São Paulo (USP) está fora dessa pesquisa e é a maior universidade do país, em números absolutos de alunos e faculdades. Desta forma, é possível observar que o ensino superior(graduação) ainda exclui uma boa parcela da população negra brasileira.

    Onde entra o racismo? Talvez você leitor que não seja negro/pardo ainda não tenha percebido, mas vamos lá! Ao que parece, as diversas formas de opressão são fundamentadas por mitos que dão aos oprimidos uma noção errônea de que a sociedade está saudável e que o único motivo que causa algum desconforto é o fato de se questionar o status quo pré estabelecido, não a situação social em si. Meritocracia e democracia racial são dois repertórios muito utilizados ao se justificar que as opressões alegadas inexistem. Essas são, porém, ideias fantasiosas sem nenhum embasamento real[5]. As questões das cotas raciais deveria ser uma questão muito menos polêmica, que atualmente provoca nas discussões e debates, entretanto, o aspecto dos privilégios entre um cidadão branco e negro não é discutido, por um simples motivo: sociedade é racista!

    O brasileiro tende a esconder e mascarar seu racismo, consequentemente a sociedade se acha livre do racismo. Mas ele está bem firme quando há um grande números de jovens negros sendo assassinado, fora da escola e do ensino superior, também quando você só teve uma professora negra na universidade em dois anos. Sim, minha orientadora foi a única docente negra com que eu tive aula. Mesmo com o todo elitismo intelectual e financeiro da carreia acadêmica não está livre da influência da sociedade. Isso nos leva ao próximo ponto...

"Pode acreditar, tio, é tudo vitimismo!"


  • Há pesquisadores negros/negras em destaque hoje em dia?

    Como comentando no começo de post eu poderia citar diversos cientistas, pesquisadores e inventores negros(as), entretanto, esse não é o objetivo do texto. Além disse, fazer listinhas com nomes não trás nenhuma reflexo e esse é o ponto deste textão.

    Você já ouviu falar do astrofísico Neil deGrasse Tyson? Obviamente sim, pois ele é o mais influente e famoso divulgador científico do mundo! Ele é o novo apresentador da nova serie Cosmos, que foi inicialmente pelo Carl Sagan muito citado por aqui e sua esposa  Ann Druyan no começo da década de 80. (Farei um post apenas falando sobre essa serie fanatística quanto a original, quanto a nova spacetime odyssey)

    #NeilMito, como dizem cada um tem seu mito, só que alguns são Mitos!
    Talvez a cientista mais incrível e mais foda, que você precisa conhecer. A Dra. Mae C. Jemison é conhecida por ser a primeira mulher negra a viajar no espaço, no dia 12 de setembro de 1992. Sua história de vida começa em Decatur, Alabama, onde nasceu em 1956. Criada em Chicago, estudou em escola pública e formou o ensino médio aos 16, entrando em seguida na Universidade de Stanford, em Califórnia, de onde saiu com duas graduações: uma como bacharel em Engenharia Química e a outra como bacharel em estudos africanos e afroamericanos. Mais tarde, ela frequentou a Universidade Cornell, onde formou-se em medicina, o que a impulsionou a ir para a África Ocidental trabalhar como médica e engenheira pela Peace Corps. De volta aos Estados Unidos, Jemison continuou a atuar como médica em Los Angeles, mas queria realizar um sonho que tinha desde o jardim de infância: ir ao espaço. Contra todos que a diziam que ela não conseguiria ser uma astronauta por ser mulher, ela foi aceita pela NASA e após cinco anos de treino foi ao espaço e conduziu experimentos como médica, analisando células ósseas[6].

    Os meus colegas das ciências humanas falam muito sobre representatividade principalmente numa sociedade mais igualitária, entretanto, isso não ocorre ainda na ciências exatas e naturais, mesmo os excelentes divulgadores científicos. Tenderão a mencionar os eixo dos "heróis" da ciência, no meu texto a importância de estudo da história da ciência comento do perigo da criação de mitos e algumas outros cientistas que acreditam incluir a diversidade total do seu público. A Dra. Marie Curie ganhadora de dois prêmios Nobel (um de física e o outro de química) ela é usado, como o caso de representatividade das mulheres na ciência. Contudo, todas as mulheres? Curie era polonesa e branca. Provavelmente a resposta será não!

    Então por que a Jemison não é mencionada ou citada nos programas de divulgação científica que conhecemos? Infelizmente mesmo esse trabalho sendo humilde e custoso, ainda há influência do racismo da sociedade que discutimos acima. Se você não está ainda muito convencido que a nossa sociedade é racista, a internet é o local onde as pessoas estão sem os filtros e mascaras. Vamos fazer outro experimento mental pegue qualquer canal grande divulgação científica, brasileiro ou gringo, eu irei pegar o exemplo do Nerdologia. Se o Atila deixar um negro apresentar o vídeo e tema for sobre Negros e Negras na ciência comentando que o problema do esquecimento de cientista, pesquisador ou inventor, pelo racismo da sociedade. Haveria uma maior probabilidade desse vídeo ter mais "dislikes", do que fosse algum outro tema narrado pelo Atila, pois é possível essa suposição pelo histórico do canal. No vídeo de Sexismo[7] apresentado pela sua esposa, Paloma, foi o que teve mais "dislikes" da história do canal, enquanto o outro tema "polêmico" para sociedade racista e machista, que abordava o próprio Racismo[8], mas dessa vez narrado pelo Atila foi o mais elogiado.

    O mesmo comportamento seria observado em outros canais grandes, porque na internet deixamos esse filtros de fora e a sociedade demonstra abertamente o seu racismo.

    Engenheira, Socióloga, Médica, Astronauta e Empreendedora. Mae Jemison.


  • Yes Science!

    A ciência é feita por contribuições de diversas durante toda a história humana, esquecer ou excluir grande contribuições vai contra todas as premissas científicas. Sim, precisamos falar de Newton, Maxwell, Einstein, Tesla, Sagan, mas também temos que falar de Just, Tysson, Jemison, Patricia Era Barth que trabalhou duro no desenvolvimento do tratamento de caratas e trazendo a visão das pessoas[9], Enedina Alves Marques a primeira engenheira negra do Brasil e foi uma das principais engenheiras na Usina de Parigot de Souza[10], Valerie Thomas importante astrofísica que contribuiu muito para o desenvolvimento de programas para NASA fazer pesquisa do comenta Halley[11] e grande outros cientistas negros e negras que mudaram a ciência, as sociedade e consequentemente o mundo!

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// links com alguns outros cientistas, pesquisador ou inventores negros e negras.

http://www.revistacapitolina.com.br/ciencia-e-racismo   // excelente texto para reflexão

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A importância do estudo de História da Ciência

Aviso: Não tenho formação de história ou filosofia da ciência, entretanto, acredito que é deveras importante a pesquisa e o estudo desta área, desta forma irei me arriscar escrevendo sobre. Perdoe as caneladas e fiquem livres para correções e críticas.


A História das Ciências nos apresenta uma visão a respeito da natureza da pesquisa e do desenvolvimento científico que não costumamos encontrar no estudo didático dos resultados científicos(conforme apresentados nos livros-texto de todos os níveis). Os livros científicos didáticos enfatizam os resultados aos quais a ciência chegou - as teorias e conceitos que aceitamos, as técnicas de análise que utilizamos - mas não costumam apresentar alguns outros aspectos da ciência. De que modo as teorias e os conceitos se desenvolvem? Como os cientista trabalham? Quais as ideias que não aceitamos hoje em dia e que eram aceitas no passado? Quais as relações entre ciência, filosofia e religião? Qual a relação entre o desenvolvimento do pensamento cientifico e outros desenvolvimentos históricos que ocorreram na mesma época?[1]

Dentro da cultura e sociedade em geral(no mundo inteiro), pouco se conhece o papel dos cientistas dento de uma sociedade e como é realizado ciência. Contudo, a situação fica mais complexa quando há crianção de "mitos" sobre a ciência e sua história, que acarreta visões deturbados sobre personalidades atuais do cientistas e de pessoas que contribuíram muito para ciência moderna. Neste texto usarei diversas referências e mais de uma vez para exemplificar melhor o papel desta área.

"O estudo adequado de alguns episódios históricos permite
compreender as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade"

O um dos grandes defensores do estudo da história e filosofia da ciência(HFC), Thomas Samuel Kunh(1922-1996)[2], foi um grande pesquisador com grande contribuições para HFC, entretanto, tinha uma oposição aposto sobre esse ensino nos cursos de formação científica. Kunh acreditava que para introduzir esse tema seria preciso "distorcer" a história da ciência, pois ele argumentava que para esses cursos não valeria a pena contar a "real" história, já que não auxilaria muito na metodologia empregada ao um experimento. Contudo, como é exposto no excelentíssimo livro de Michael  R. Matthews[3], Science Teaching: The Contribution of History and Philosophy of Science, não seria necessário distorcermos a história da ciência, uma vez que contar aos iniciantes a história real faria com que compreendêssemos de modo ainda mais adequado a ciência. Assim, contar a história "real" faria com que nos deparássemos com a natureza da ciência: aquilo que a ciência é.

Ainda Matthews destacas pontos importantes para que seja inserido HFC no ensino, consequentemente nos cursos de formação científica, desta forma valendo lista-los aqui.

a) Promoção da compreensão acerca da natureza da ciência; aqui se alerta para a importância da filosofia da ciência na compreensão da ciência, com tópicos como: “metodologia científica”, “empirismo”, “realismo”, “caracterização de leis científicas”, “métodos de verificação”, “problema da indução”, “continuísmo”, “mudança conceitual” etc.;
b) Compreensão de forma mais adequada dos conceitos e métodos científicos: diferentemente do caso para a compreensão de instituições sociais com as quais estamos mais familiarizados (partidos políticos, governos, leis etc.), a instituição social que denominamos “ciência” nem sempre é avaliada em uma perspectiva histórica; contudo, abordar o conhecimento científico a partir de sua história promoveria uma compreensão mais ampla dos conceitos e métodos científicos, uma vez que estes possuem igualmente uma biografia;
c) Ênfase da importância intrínseca da história da ciência; deveria fazer parte da formação do estudante a compreensão da história da ciência;
d) Desmascaramento do dogmatismo e cientificismo dos manuais; aqui se admitiria, por exemplo, o caráter social da ciência;
e) Humanização da ciência por intermédio da história; por exemplo, apresentando idiossincrasias pessoais dos cientistas e os embates científicos que ocorrem na sua comunidade;
f) Enfoque da interdisciplinaridade científica; a conexão entre as disciplinas científicas.

Philosophy of Science without history of science is empety;
History of Science without of philosophy of science is blind - Imre Lakatos


  • Alguns conceitos de História da Ciência
Os conceitos com quais a História da Ciência conta entre outros, são: Epistemologia, Ontologia, Falisifacionismo, Indução e dedução, Axioma, Paradigma, Objetividade/Subjetividade, O método experimental, Pensamento neoparadgmático.[4] Tentarei aqui exemplificar um pouco cada um deles.

Epistemologia é um ramo da filosofia que estuda a teoria do conhecimento, suas validações, forma de como os modelos científicos foram se configurando em sistemas explicativos lógicos esteticamente aceitáveis por um grupo de pares. Falar de epistemologia é falar diretamente da história de como a ciência ocidental foi sendo constituída;
Ontologia trata-se de um conceito que diz respeito a natureza e as propriedades do ser ou de um determinado fenômeno. Em perspectivas mais contemporâneas tem se discutido em torno da não possibilidade de se acessar a ontologia ou ao real das propriedades de algum fenômeno, podendo-se apenas representá-lo, é o que se chamaria então de representação ontológica;

Falsificacionismo implica em uma abertura crítica sobre os pressupostos científicos, do ponto de vista não da validade, mas da insuficiência das respostas que uma proposta científica pode trazer. Assim para Popper um conhecimento só pode ser tratado como cientifico se este pode ser refutado, se pode ser questionado e substituído. Esta posição daria movimento ao fazer cientifico do ponto de vista histórico e traria a ciência o caráter construtivo-histórico. Esta visão é diferente da posição epistemológica do verificacionismo, que invalidava o conhecimento se fosse refutado, sua busca era por menosprezar as teorias que não fossem consideradas consistentes;
Indução é um modelo de apropriação do real por meio da observação guiada por um método específico, no qual isenta o observador de quaisquer subjetividade, segundo se acredita neste método. Assim no momento empírico seria possível, se bem empregado o método, acessar as características da essência do observável. Seria importante estudar um determinado objeto e suas relações causais submetidos a diversas variáveis para que daí se pudesse extrair uma conclusão generalizada do objeto
estudado;

Dedução segue a linha de raciocínio lógico, não se preocupa necessariamente se os enunciados são verdadeiros ou falsos, sua intenção antes é saber se um grupo de enunciados sobre o real são coerentes e lógicos, tirando conclusões gerais sobre algo no mundo que se remeta ao arcabouço das relações de causa e efeito já tradicionalmente aceito nos pares científicos. Então para os pensadores lógicos "dedutivistas" a questão se opera na relação “se”, “então...”;
Axioma é um conceito tipo como verdadeiro e que se inscreve dentro de um nexo causal entre coisas, fatores ou acontecimentos. De um grupo de axiomas em geral derivam outras conjecturas dando corpo a enunciados teóricos consistentes. Os axiomas por vezes são princípios que respondem por si mesmo, como entidades de verdade que estão dadas;

Paradigma entende-se o conjunto de crenças que engendram em um modelo capaz de servir de lente sobre a leitura do mundo ou de um objeto, sendo basal para se construir ideias. Um paradigma é um parâmetro ou um modelo funcionando como uma matriz de conhecimento onde formas explicativas se filiam;
Objetividade fala-se da busca por afastar-se do que é afetado, emocionado, irracional, tomando tudo como coisa, possível de ser mensurado e submetido a um método específico, dando-lhe o caráter de objeto, ou seja, com uma racionalidade já sabida, passível e previsível, esvaziada de paixões. Por subjetividade entende-se um movimento de reflexividade, de conteúdos que escapam a racionalidade, com um caráter polimórfico, ativo, emocional, não mensurável e que diz respeito a um sujeito concreto e produtor;


Método Experimental – método tido como única possibilidade na ciência moderna para se acessar a verdade sobre as coisas. Este método consiste em manipular as variáveis, conservando o objeto em laboratório para isto, observando e mensurando as repostas deste em relações as variáveis manipuladas. Geralmente este laboratório conta com um controle, ou seja, outro objeto semelhante que não se submete as variáveis que estão sendo testadas. Para que por comparação experimental se possam tirar conclusões gerais;
Pensamento Neoparadgmático – compreende o fenômeno como construção do pesquisador que se relaciona com campo estudado e, ao fazer isso, o modifica. Portanto aceitação do caráter subjetivo do pesquisador como construtor da informação no momento empírico. No pensamento neoparadigmático o mundo e seus fenômenos são tidos como construções dotadas de instabilidade, intersubjetividade e
complexidade.

"Mitos são criados de pessoas comuns e se tornando apenas mentes da 'Eureka"

  • Desconstruindo Mitos e momentos de Eureka
O estudo adequado de alguns episódios históricos também permite perceber o processo social(coletivo) e gradativo de construção do conhecimento, permitindo forma uma visão mais concreta e correta da real natureza da ciência, seus procedimentos e suas limitações - o que contribui para a formação de um espírito crítico e desmitificação do conhecimento científico, sem no entanto negar seus valor. A ciência não brota pronta, na cabeça de "grandes gênios". Muitas vezes, as teorias que aceitamos hoje foram propostas de forma confusa, com muita falhas, sem possuir uma base observacional experimental. Apenas gradualmente as ideias vão sendo aperfeiçoadas, através de debates e críticas, que muitas vezes transformam totalmente os conceitos inicias. Costumamos dizer que nossa visão do universo, heliocêntrica, foi proposta por Copérnico no século XVI. No entanto, existe pouca semelhança entre aquilo que aceitamos hoje em dia e aquilo que Copérnico propôs. Até mesmo ateoria de evolução biológica que aprendemos hoje em dia não é a teoria de Darwin. Nosso conhecimento foi sendo formado lentamente, através de contribuições de muitas pessoas sobre as quais nem ouvimos falar e que tiveram importante papel na discussão e aprimoramento das ideias dos cientista mais famosos, cujos nomes conhecemos.[1]


Portanto, é necessário muito cuidado quando discutimos sobre alguns cientista do passado para não distorcer ou criar mitos dessas pessoas, como geralmente acontece no conhecimento geral e também ocorre dentro das salas de aulas no ensino de ciência. Lembre-se que eram seres humanos, ou seja, seres faláveis, com seus preconceitos e mesmo com suas boas contribuições para ciência moderna, não eram isentos de erros, pois os melhores cientistas já erraram em algumas coisas.


  • Nota para o argumento da autoridade

Temos ter muito cuidado com o ensino de história da ciência, pois podemos cair no argumento da autoridade, que é uma grande falha. Há uma importante distinção entre conhecimento científico e crença científica. Ter conhecimento científico sobre um assunto significa conhecer os resultados científicos, aceitar esse conhecimento e ter o direito de aceitá-lo, conhecendo de fato como esse conhecimento é justificado e fundamentado. Crença científica, por outro lado, corresponde ao conhecimento apenas dos resultado científicos e suas aceitação baseada na crença(argumento) na autoridade do professor ou do cientista.

"Questione a Autoridade!"

  • Conclusões

Trata-se certamente de um desafio, visto que as licenciaturas usualmente preocupam-se mais com a parte “convergente” da formação do futuro professor – ou seja, em torná-lo competente no que diz respeito ao domínio de um determinado conteúdo – e muito pouco em desenvolver no mesmo a habilidade para refletir sobre este conteúdo e problematizá-lo histórica ou filosoficamente. Esta seria,
portanto, uma das contribuições que a HFC poderia dar à formação dos professores: permitir que desenvolvam um pensamento divergente sobre o conteúdo, o que poderia torná-los mais preparados para lidar com as dificuldades que seus alunos frequentemente apresentam no que diz respeito à sua compreensão.[5]
Assim a compreensão de HFC é de grande importância para compreendemos melhor a ciência e o seu ensino se torna ainda mais importante tanto para formação científica, como no ensino fundamental e médio, entretanto, é preciso ter cuidado para não criar mitos ou cair no argumento da autoridade. Desta forma, esperamos que nos próximos anos vermos currículos com maior conteúdo dessa área e claro com materiais com qualidade e acuracidade.[6]




Agradecimentos a pesquisadora de HC Adriana Cristina Galis pela sugestão de referência.
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[4] http://www.revistas.uea.edu.br/download/revistas/arete/vol.4/arete_v4_n07-2011-p.80-87.pdf
[5] https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/2175-7941.2013v30n2p287/24928
[6] http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol10/Num1/a04.pdf

http://faculty.education.illinois.edu/m-osbor/507SE06/matthews.pdf      // capítulo 9 do recomendadíssimo livro Science Teaching: The Contribution of History and Philosophy of Science.
http://www.ejmste.com/v6n4/eurasia_v6n4_yalaki_cakmakci.pdf  // artigo incrível de uma entrevista realizado por pesquisadores turcos com Michael Matthews.
http://www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/numero01/FCRB_Escritos_1_6_Antonio_Augusto_Passos_Videira.pdf   // artigo bem denso comentando a historiografia da ciência e sua metodologia.
http://www.sbhc.org.br/revistahistoria/public   // Sociedade Brasileira de História da Ciência.
http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v11n2/10.pdf   // ferramentas e métodos para o estudo de HC.
http://www.mast.br/arquivos_sbhc/121.pdf    // artigo sobre a importância da história da ciência.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Como Funciona a Meritocracia

Esse é mais um texto que teve sua inspiração nascido de uma discussão(polêmica), mas prometo que trarei outros tipos de debates para o blog nos próximos post. Contudo, esse tema é muito recorrente atualmente nas discussões de política com mais precisão nos debates sobre desigualdade social e falta de oportunidades dentro da sociedade. Hoje temos diversos argumentos apontando que a Meritocracia é um sistema favorável para as pessoas e o mundo pode ser "ganho", apenas através de "méritos" individuais, entretanto, nesses argumentos há alguns pontos e contra pontos que eu quero apresentar a vocês. Desta forma irei apresentar argumentos a favor e contra a Meritocracia e discuti-los.


“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las” – Aristóteles

  • Origem e Epistemologia da Meritocracia
Meritocracia (do latim meritum, "mérito" e do sufixo grego antigo κρατία (-cracía), "poder") é um sistema de gestão que considera o mérito, como aptidão, a razão principal para se atingir posição de topo. As posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento e entre os valores associados estão educação, moral, aptidão específica para determinada atividade. Constitui-se uma forma ou método de seleção e, num sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia governativa[1]. Que poucos sabem sobre a origem do termo é que ele foi cunhando(ou foi usado) pelo sociólogo britânico, Michael Young, Baron Young of Darting(1915-2002), em seu livro "Rise of Meritocracy, 1870-2033" público em 1958[2]. O livro de ficção científica conta história de um sociólogo no 2034, que olha para 160 anos no passado da Educação Britânica, que nos anos de guerra tinha sido reformulado e continuado utilizando teste de QI, como sua base de "méritos", desta forma ele utilizou a palavra meritocracia para descrever esse sistema, Contudo, Young em seu livro utiliza a palavra de forma pejorativa e sarcástica para criticar esse sistema[3]. Apesar de sua obra ser desconhecida para muitos e de ser um livro de ficção, é ainda uma referência de estudo nos cursos de sociologia da Inglaterra e Reino Unido.

Rise of  Meritocracy, 1870-2033, por Michael Young.

  • Meritocracia como sistema funciona?
O emprego da Meritocracia esta muito ligado à algumas ideologias políticas, por isso vou apresentar alguns argumentos mais utilizados por seus defensores e tentar traçar algum paralelo com nossa atual sociedade. Os argumentos mais recorrentes para filosofia liberal e principalmente para Escola Econômica Austríaca, são que o mérito não é mais nada que geração de valor, ou seja, o que realmente determina a remuneração no mercado não é o mérito, não é a virtude, não é o esforço ou a dedicação. É apenas a criação de valor; o valor que aquela pessoa consegue adicionar à vida dos demais[4]. Contudo, há algumas falhas nesse argumento porque a sociedade não tem um comportamento simples e constante, há desigualdades dentro das sociedade e isso prejudica a tal geração de valor muito citado por liberais, no artigo do Economista-Chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros, que esse tipo de argumento não tem validade, pois seria precisa eliminar a desigualdade atual[5].

"Não adianta apenas esforço burro, precisa de um esforço direcionado"

Um outro argumento recorrente dos defensores da Meritocracia como sistema real é, do esforço direcionado[6], pois de maneira mais leiga podemos dizer que um sistema deste vai trazer "frutos" para aqueles mais merecedores e que se esforçaram para alcançar aquelas conquistas, entretanto, também existem falhas nesse pensamento, como a "Meritocracia Hereditária" que irei comentar um pouco logo a frente. Porém, tem problemas de quantificar o sucesso de maneira tão simplória, como esforço ou esforço direcionados, na última matéria do site Pragmatismo Político no seu artigo, A Falácia da Meritocracia, reconhecer que o que se alcança através dos estudos, do esforço, da dedicação, sejam apenas capacitação mas que alcançar mérito real também é possível, mas que esse mérito real não é algo que toda e qualquer pessoa possa alcançar não diminui os feitos de ninguém, ao contrario, os enaltece. Além do mais isso também não tira o fato de podermos receber a outorga por nossos feitos como méritos legítimos, porém vindos de outros lugares, como da família por exemplo. Alguém que se forma depois de muito esforço, especialmente aqueles que chegam lá a custa de muito sacrifício pessoal e familiar, com certeza tem o direito de aceitarem e receberem a outorga desse reconhecimento de mérito da parte de seus familiares, e tem o direito de se orgulharem pelo que fizeram e pelo que atingiram, mas não de pretender levar esse mérito pessoal além dos limites de sua esfera pessoal. Pois para realmente ser correto e verdadeiro ele deve também reconhecer que inúmeros outros atingiram o lugar que ele atingiu, e que a única forma de se manter em atividade é pela capacitação constante. O mérito pessoal alcançado estará sempre presente no seio de sua família e daqueles que compactuam com ele desses feitos, mas isso é algo que pertence à ele e àqueles que lhe são caros, e se trata de uma etapa e não de toda a vida. Pretender cobrar de outros esse reconhecimento é o mesmo que exigir a outorga de uma medalha em uma solenidade, ela pode até chegar, mas não terá valor nenhum.


  • A Meritocracia Hereditária
Um contra ponta da Meritocracia são as pessoas que tem um certo sucesso ganho de família. Na defesa dessa ideia de meritocracia hereditária, é argumentado que o mérito vem do passado, ou seja, dos seus parentes que através de uma mérito individual no passado teve sucesso para dá a seus herdeiros uma posição com maiores oportunidades. Todavia, esse argumento não tem qualquer fundamento com a meritocracia que eles mesmo defendem, pois a única variável seria o esforço individual, no artigo muito interessante da revista The Economist, An hereditary Meritocracy, o texto faz uma análise da elite americano e seu discurso meritocrático, apesar de suas crianças terem muito mais oportunidade educacional e profissional, do que uma criança negra do interior ou do subúrbio americano. Diferente do Brasil o sistema educacional superior americano é privada, mesmo nas universidades pública, há taxas de mensalidade(ou anuidade). Portanto, é bem comum alunos de baixa renda não conseguirem entrar em alguma boa universidade, porque as taxas são altíssimas e as bolsas de estudos não são o suficiente para esses alunos. Também existe o problema do endividadamente das famílias americanas para bancar as taxas altíssimas. Tendo assim um discurso falho de uma elite para justificar a desigualdade social que é perpetuada pela mesma.

Mérito Hereditário não existe!

  • Você tem um minuto para falar sobre Desigualdade Social?
A desigualdade social é algo muito importante mencionar quando estamos falando sistema sociais ou políticos, apesar dos defensores da meritocracia não gostarem muito de debater sobre esse problema que está crescendo. Esse a ano Oxfam divulgou um relatório com um dado alarmante que 99% da riqueza está apenas com 1% do mundo, ou seja, a concentração de riqueza na mãos de poucos está cada vez maior[7]. Como mencionado antes a elite ainda continua com discurso meritocrático para justificar seu poder econômico e político, pois vemos ações de governos influenciados pela vontade de uma minoria para se beneficiar, vide os casos de corrupção no governo. Nessa situação social a desigualdade está tão alta, que ações externas são necessárias para uma equidade dessa balança.

"Desigualdade Social faz parte do sistema"


  • Meritocracia x Políticas Públicas
Existem alguns dos defensores da meritocracia que admitem que a desigualdade é um grande problema, mas todos ressalvam que isso não é desculpa para um crescimento de méritos. Eles argumentam que essa desigualdade é gerada pelo Estado[8], ou seja, o governo brasileiro tem um papel de grande importância nessa desigualdade. Porém, não conseguir achar nenhuma fonte que possa sustentar esse argumento, pelo contrário há referências que mostram efetivo de políticas públicas realizadas pelo Estado, que tiveram êxito na distribuição de renda e na elevação da mesma. O Brasil obteve excelentes resultados na distribuição de rendas entre suas regiões, por exemplo, a região nordeste que já apresentou índices de pobreza elevados teve aumento de renda de 72,8% durante essa década(2000-2010)[9]. Com uma realidade de mais oportunidades pessoas tem mais chance de obter sucessos profissionais/pessoas e assim talvez podemos começar falar de uma disputa de "méritos", mas ainda falta muito caminho para chegarmos nessa situação principalmente no Brasil.

Políticas públicas são importante contra a desigualdade social

  • Vitimismo?
Como mencionado no começo do post esse texto foi motivado, por diversas discussões sobre falta de oportunidades que algumas classes são submetidas. Talvez o argumento mais falho deles é dizer que essas classes, se lamentam tanto do governo[10] que esquecem de focalizar nas suas ações individuais e por méritos alcançarem seus sonhos. Não estou dizendo aqui que devemos ficar parados esperando tudo cair dos céus, entretanto, se apropriar de um discurso meritocrática para chamar os outros de vagabundos e acomodados é certamente errado. Portanto, é preciso sim levar os aspecto social antes de qualquer coisa, pensar em políticas públicas, dar oportunidades a mais pessoas e talvez dessa forma poderíamos ter um certo sistema de meritocracia no mundo de equidade.

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Referência Bibliográfica e links interessantes:
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Meritocracia
[2] https://en.wikipedia.org/wiki/The_Rise_of_the_Meritocracy
[3] http://home.uchicago.edu/aabbott/barbpapers/barbmerit.pdf
[4] http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2054
[9] IPEA, A década Inclusiva(2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda, 2012. 

http://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI/ — Gini Index // um indice que mede desigualdade social pelo mundo.
http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais9/artigos/workshop/art15.pdf  // excelente artigo que fala sobre importância das políticas públicas.
http://www.unz.com/article/the-myth-of-american-meritocracy/  // um visão americana sobre a meritocracia no Estados Unidos.
http://meritocracyparty.org/about/  // organização que defende uma democracia meritocrática.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Dificuldades e Problemas da Carreira Acadêmica no Brasil

Nesses dias houve uma discussão em grupo do Facebook sobre a dificuldade da carreira acadêmica para estudantes das classes sociais mais baixas. Eu já escrevi algo parecida na minha breve despedida ano passado. Principalmente da dificuldade financeira que alunos de renda baixa encontram na sua permanência nas Universidade Públicas(irei comentar mais sobre isso em futuro post). Desta forma decidir escrever alguns pontos da dificuldade de seguir a vida Acadêmica(Docência, Pesquisa e Orientação) no Brasil, posteriormente darei minha opinião pessoal.


  • Regularização da Carreira Pesquisador

Um dos maiores problemas e debate aqui no país é na não profissionalização de cientista(pesquisador). Sim, existem pessoas trabalhando como pesquisadores(recebendo bolsas e sem nenhum direito assegurado) nos poucos(e falidos) Institutos de Pesquisa. Contudo, não há uma legislação que garanta que uma carreira científica no país, pois a grande maioria da pesquisa realizada é feito dentro das Universidades(pública) por professores, ou seja, não existe cientista no ponto de vista da legislação trabalhista atual. Isso acaba tornando-se um grande problema dentro dessas instituições porque a grande maioria tem um formação pura científica e pouca formação pedagógica em si. Já tive professores péssimos porque como ele mesmo dizia, odiava dá aula, mas era obrigado acarretando na em problema graves dentro da universidade.

Professor x Pesquisador: Dedicação exclusiva é um problema?
O problema dessa falta de regulamentação pode ser agravar com a falta de vagas nas universidade, pois hoje para conseguir alguma "estabilidade" é preciso ser docente de alguma instituição de ensino. Porque mesmo naqueles Institutos de Pesquisa mencionado as pessoas ganham em sua maioria bolsas e essa remuneração não é nenhum pouco estável vide os cortes que estão acontecendo por todo lado[1]. O texto da neurocientista Suzana Herculano, Regulamentação da Profissão Cientista, que ela comenta a importância dessa iniciativa para ciência Brasileira, entretanto, por outro lado há uma resistência de alguns cientista até mesmo de conselhos prestigiados, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que quer manter atual situação[2]. 

  • PesquisaxSociedade: Para que(m) serve o teu conhecimento?

O Atila do Canal Nerdologia e pesquisador em virologia escreveu em seu blog[3] um texto fantástico sobre, A Crise da Ciência no Brasil, um dos seus argumento mais recorrentes é que o "povão" que paga tudo, pois a ciência no Brasil é quase em sua totalidade financiada pelo Governo[veja o vídeo do Pirula]. Desconhece totalmente o que o cientista faz não há qualquer divulgação científica das instituições de Ensino e Pesquisa(salve raras exceções claro), do que é realizado dentro do meio acadêmico. A sociedade que financia pesquisas não tem acesso ao conteúdo do que está pagando, porque a Ciência Brasileira não tem uma cultura de divulgar e ainda alguns acreditam que deva ser assim mesmo, até porque não teriam obrigação para fazer isso. 

"O mundo da pesquisa ainda está muito longe da realidade das pessoas."
Essa mentalidade que a maioria dos pesquisadores(docentes) brasileiros possuem acabam auxiliando , na propagação da ideia que cientistas são "loucos" e gastam dinheiro público com nada útil para o país. Esse pensamento que muitas pessoas da população em geral podem ter é bem compreensível vemos poucos cientistas falando sobre suas pesquisas e nem sempre é um discurso interessante para o público leigo, entretanto, como o Atila argumentou no seu texto é muito importante a divulgação científica porque o político também é leigo e caso precise cortar verba é muita mais fácil cortar de algo que não tenha utilidade, pelo menos que ele entende assim. Também é possível citar a NASA que deva ser a instituições que faz mais divulgação no mundo e ela necessita fazer isso, pois quanto mais causa comoção da sociedade americana mais chance de conseguir verba para pesquisa.

  • Elitismo da Carreira Acadêmica
No começo do post falei que a motivação desse texto foi uma discussão, sobre a dificuldade dos alunos de baixa renda encontram dentro da universidade consequentemente na carreira acadêmica. Quando você ingressa numa universidade pública apesar de não existir mensalidade, porém há alguns gastos consideráveis as federais em geral se encontram perto da capital de cada estado do país. Dessa forma uma boa parte dos alunos precisam de mudar para cidade ou região perto que se encontra a instituição(como é meu caso), assim é preciso de moradia então há um gasto com aluguel e claro tem a alimentação. Nesse caso de alunos fora o gasto gira em torno de R$ 600,00~R$ 700,00, a bolsa de iniciação científica, que é o primeiro contato que um aluno de graduação pode ter com a carreira acadêmica tende ser R$ 400,00. Ou seja, com apenas com a bolsa de iniciação científica você não conseguiria se manter dentro da universidade. Mas alguém poderia argumentar que o aluno teria de arrumar um emprego, entretanto, para concessão de bolsa de Iniciação Científica é preciso não ter nenhum vínculo empregatício e uma dedicação de 20 horas semanais, além de alguns cursos de graduação são período integrais.

Desigualdade está por toda parte da sociedade.

A carreira acadêmica exigem uma dedicação praticamente exclusiva de realizar pesquisa e estudos(tanto para graduação e pós), pois você tem matérias para cursar. Sem um apoio financeiro por trás para realizar apenas essas atividade fica mais complexo manter a excelência que a carreira exige. Porque diferente do Mercado seu histórico e sua produção científica tem grande importância no momento de solicitar bolsas. Hoje temos ainda uma elite com as maiores chances de conseguir chegar até o final do doutorado, por causa desses problemas financeiros.

Campanha de conscientização da UFJF. 

Meu grande objetivo, como já dito antes, da criação desse blog é compartilhar minha experiências de aspirante a cientista e meu caminho até se torna um, além de escrever sobre divulgação científica e como vocês viram é muito importante que as pessoas dentro da acadêmia faça! Portanto, vai ter momentos de altos e baixos durante esse percurso, todavia tenho certeza que algumas coisas que aprenderei serão fenomenais, na verdade algo que me faz querer cientista é tentar sanar toda minha curiosidade sobre o Universo, pois quando você faz Ciência o prazer de descobrir e naquele momento ser o primeiro a saber e ver aquilo é inacreditável. Apesar de todos essas dificuldade e problemas que citei aqui, meu sonho de torna-se cientista ainda continua bem vivo. Nos próximos meses começarei um novo capítulo então aguarde novidades!

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Referência Bibliográfica e links interessantes:
[1] http://posgraduando.com/capes-corte-verba-custeio-pos-graduacao/
[2] http://www.sbpcnet.org.br/site/noticias/materias/detalhe.php?id=4055
[3] http://scienceblogs.com.br/rainha/

https://www.youtube.com/watch?v=23fWUO-Z1go  // ótimo vídeo do pirula falando dos problemas da ciência brasileira
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2013/6/17/profissionalizaco-do-cientista-o-que-e-e-o-que-no-e.html  // texto e vídeo da neurocientista Suzana Herculano argumentando sobre a importância da regulamentação do profissão cientista.
http://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-475-profissao-cientista/  // nercast(podcast) sobre profissão cientista 
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/CIENCIA-E-TECNOLOGIA/488147-AUDIENCIA-DISCUTIRA-POSSIVEL-REGULAMENTACAO-DA-PROFISSAO-DE-CIENTISTA.html  // ultima notícia que achei falando da regulamentação da profissão cientista na câmara.
http://scienceblogs.com.br/dragoesdegaragem/2012/09/dragoes-de-garagem-1-carreira-academica-graduacao/  // outro podcast que recomendo muito sobre ciência e divulgação científica.